Por quê o Mercosul ainda não deslanchou? Vamos analisar isso aqui. E, para isso, vamos utilizar o bloco econômico da União Européia para efeitos de comparação, já que o Mercosul se espelha nela.
O Mercosul é uma união aduaneira composta originalmente por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, podendo a Venezuela a ser integrada posteriormente, dependendo só das aprovações dos Parlamentos do Brasil e do Paraguai.
A formação do Mercosul remonta à Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC) na década de 1960 e à Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) na década de 1980. Dessa forma, Argentina e Brasil estabeleciam a meta de criar um bloco de livre comércio no continente, no qual os outros países poderiam aderir. Assim, em 1991, foi assinado o Tratado de Assunção, estabelecendo o Mercado Comum do Sul, onde os países-membros não tributariam ou restrigiriam as importações um do outro.
A partir de 1º de janeiro de 1995, esta zona de livre comércio converteu-se em união aduaneira, onde os países-membros praticam a mesma tarifa de importação de países estrangeiros.
Depois deste rápido histórico, vamos aos problemas.
1) Começo em marcha-ré: O Mercosul começou em marcha-ré. Quando se pretende criar um bloco econômico, deve haver empenho por parte dos estados-membros. Como é que vai haver empenho, se os presidentes dos estados forem neoliberais? Eles vão dizer: "O mercado se autoregula", como se o bloco não dependesse das ações deles. O Tratado de Assunção foi assinado por Fernando Collor e por Carlos Menem (da Argentina). Depois tivemos aqui Fernando Henrique Cardoso, enquanto na Argentina passaram uns 10 presidentes.
2) Influência do líder do Eixo do Mal: Em 1989 foi assinado o Consenso de Washington, uma carta neoliberal. Como, depois de Bush filho (republicano) foi eleito Bill Clinton (democrata), a idéia da ALCA - Área de Livre Comércio das Américas - ficou em suspenso. Assim que Bush neto (o atual, republicano) foi "eleito", em 2000, a idéia da ALCA voltou. Mas, como em 2002 Lula foi eleito, essa "idéia" foi por água abaixo. Então, já que os ianques não poderiam fazer um acordo comercial com todos os países de uma só vez, este mesmo EUA começou a fazer tratados bilaterais, ou seja, um acordo entre EUA e Chile, outro acordo entre EUA e Paraguai, outro acordo entre EUA e Uruguai, e por aí vai. Então, o presidente Lula lutou para que o Mercosul não afundasse de vez, pois Paraguai estava bem interessado.
3) Nacionalismos: Tanto na Primeira quanto na Segunda Guerra Mundial, os conflitos começaram com a Alemanha invadindo a França. Eu pergunto: será que foi fácil unir os dois povos num mesmo bloco, onde seus habitantes podem andar, comercializar, trabalhar livremente entre si? Do mesmo modo, eu falo sobre aqui. Já pensou a confusão que teremos quando corinthianos forem jogar na Argentina (o que de certa forma já acontece na Libertadores da América)? Já pensou os boca-juniores vindo pra jogar num Maracanã?
Contudo, contudo, a maior rixa que há não é entre brasileiros e argentinos, mas entre paraguaios e brasileiros. Ou você gostaria se seu vizinho invadisse sua casa, quando você estivesse em uma situação financeira melhor, com o pretexto de que você tem muitas armas? Foi o que aconteceu na Guerra do Paraguai (1864).
4) Disparidades político-sociais-econômicas: A maioria das decisões dos órgãos do Mercosul são tomadas por consenso, o que exige muita conversa. Além das diferenças de formação dos presidentes (de esquerda ou de direita), existe as disparidades sociais e econômicas entre os países. Argentina, Brasil e Uruguai têm IDH elevado (0,863; 0,800; e 0,851, respectivamente), enquanto Paraguai e Venezuela têm IDH médio (0,757 e 0,784 respectivamente). Dos 2,2 trilhões do PIB do Mercosul, 70% corresponde ao Brasil.
E mesmo que os todos presidentes, hoje, do Mercosul se considerem de esquerda, até mesmo entre eles há diferenças. Enquanto no Brasil o Presidente Lula tem formação sindical, onde o diálogo é necessário, o presidente da Venezuela Hugo Chávez tem formação militar, o que lhe dá uma personalidade de "sempre estar com a razão".
De certa forma, o Mercosul não está mal das pernas. Poderia estar pior. O que influencia mais negativamente hoje são as oposições interno-estatais, oposições de direita. Na Venezuela, isso dissipou-se um pouco.
No Paraguai e no Uruguai, mesmo que as esquerdas estejam no poder, são esquerdas elitistas. Na atual eleição do Paraguai (que a Mídia Suja não noticia), o ex-bispo Fernando Lugo, advindo dos movimentos populares, como Lula e Evo Morales, e que vem ameaçando a hegemonia de seis décadas do partido colorado, está na frente de seus adversários: Lino Oviedo, autor de um golpe de estado fracassado, ex-exilado político no Brasil e recente preso político no Paraguai; Blanca Avelar, do partido colorado, apoiada abertamente pelo atual presidente Nicanor Duarte Frutos; e, Pedro Fadul, por um partido de oposição.
Na Argentina, a oposição tentou derrubar Cristina Kirchner com a mesma história inventada pela oposição daqui: de que Fidel teria enviado uma mala de dinheiro para financiar a campanha de Lula.
Aqui, o Presidente Lula, quanto mais oposição sofre, mais sua popularidade sobe.
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