domingo, 28 de setembro de 2008

As diferenças entre a Revolução de 1930 e o Golpe de 1964

A direita gosta de subverter a História. Vou explicar como é importante deixar tudo em pratos limpos.

- Antes de 1930: O Brasil vivia a política do café-com-leite, como todos aprenderam na escola. A expressão era uma referência aos eixos da economia do Brasil na época. Enquanto São Paulo era potência com o café, Minas Gerais vinha em segundo com o leite. Assim, revezavam a Presidência da República. Se o candidato não era natural do Estado, escolhiam quem podia servir como marionete.
- Causa da Revolução de 1930: Em 1929, a Bolsa de Nova Iorque quebrou, o famoso Crash. Com isso, o café, que nos levava para frente, nos levou para trás. Na época, o Presidente era paulista, e ía ter eleição em 1930. Para tentar recuperar os efeitos da Crash de 1929, os paulistas lançaram um candidato, quando deveria ser um candidato mineiro (ou indicado por Minas). Aí, o pessoal de Minas não gostou.
Bastou isso para que o "resto do Brasil" se unisse a Minas contra São Paulo. Nessa união, estava Getúlio Vargas. Mas, a revolução tem outro personagem principal: João Pessoa.
- O estopim da Revolução de 1930: Uma das versões é a seguinte. João Pessoa era paraibano. Na Paraíba, havia (?) uma rixa entre os Pessoa e os Suassuna (de quem Ariano Suassuna descende). O estopim da Revolução de 1930 foi (acredita-se) a briga entre as duas famílias. João Pessoa estava na Cafeteria Glória, no Recife, quando foi assassinado... por um Suassuna.
Outros acreditam que, além da rixa entre as famílias, os Suassuna estariam apoiando o candidato de São Paulo. Seriam dois coelhos com uma tacada só.
- A Revolução de 1930: Mesmo após a vitória de Júlio Prestes, candidato de São Paulo, mesmo tendo se recontado os votos uma vez, os revolucionários não aceitaram o assassinato de João Pessoa. Como Júlio Prestes não tinha assumido a Presidência ainda, não houve dificuldades.
A maioria dos revolucionários eram governadores dos estados, descontentes com a política café-com-leite. À época, Getúlio Vargas era governador do Rio Grande do Sul.

- Antes de 1964: Getúlio implantou medidas de proteção aos trabalhadores em geral, às mulheres, e Juscelino Kubtschek implantou uma política desenvolvimentista através das rodovias e da interiorização. Na eleição de 1960, João Goulart, Ministro do Trabalho e Emprego de Getúlio Vargas e Vice-Presidente de Juscelino Kubtschek, foi pressionado a concorrer a Presidente. Levaria de lavada, como levou... para o cargo de Vice-Presidente. Para Presidente foi eleito o Bêbado Doido, Jânio Quadros, junto com partidos de oposição a Getúlio, Juscelino e Goulart.
- Causa do Golpe de 1964: Antes disso, abro parênteses. Jânio Quadros era do tipo populista. Uma cópia mal-feita de Getúlio (muito mal-feita por sinal). Dizem que utilizava bilhetinhos para se comunicar com seus ministros, no lugar dos ofícios burocráticos. Quando não estava bêbado, estava bebendo para ficar bêbado. Renunciou a Prefeitura de São Paulo e ao Governo do Estado de São Paulo para concorrer a mandatos superiores. Eu digo até que os pê-esse-dê-bistas são discípulos de Jânio Quadros: vivem renunciando à seus cargos para concorrer a outros maiores, desrespeitando o voto popular. Fecha parênteses.
Como era de se esperar, Jânio Quadros renunciou à Presidência. Quem deveria assumir era João Goulart, que, no momento, estava na China. Nesse momento, tentaram dar o primeiro golpe. Quem "segurou as pontas" foi Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul (alguma semelhança com Getúlio Vargas?). Goulart voltou e aí vieram com uma história de parlamentarismo, tudo para Jango (como João Goulart era conhecido) não assumir a chefia de governo. Era a segunda experiência parlamentarista no Brasil (a primeira fora no Império). Mas, não durou muito. Fizeram um referendo, que deu resultado a favor do presidencialismo. Então, João Goulart reassume a chefia de governo.
- O estopim do Golpe de 1964: Ao assumir a chefia de governo, João Goulart lançou o que chamamos hoje de PAC: um pacote com várias reformas. Reformas universitária, fiscal, política, agrária, tributária, administrativa, urbana, etc, as chamadas reformas de base. E a UDN olhou enviesado para essas reformas. Hoje, todo mundo (principalmente a direita) diz que o Brasil precisa passar por uma reforma política, trabalhista, previdenciária, etc. Porque a direita naquela época, a UDN, não aceitou? Porque as reformas de base tinham um viés social, progressista, que atingiam: os grandes latifundiários de terra, as multinacionais da indústria e do comércio, grandes investidores particulares e companhias imobiliárias, dentre outros.
- O Golpe de 1964: Na madrugada do dia 31 de março para 1 de abril de 1964, em plena campanha eleitoral para a Presidência, com a consolidação de Leonel Brizola, candidato de João Goulart, como favorito ao cargo, os militares saem do quartéis para depor João Goulart. No dia 2 de abril, os jornais "Folha de São Paulo", "Estado de São Paulo" e "O Globo" publicaram editoriais elogiando o Golpe, dizendo que a democracia venceu. O jornal "Última Hora" foi o único que repudiou o ato.

Semelhanças
1. Tanto num quanto noutro movimento, o Brasil, como o Mundo, passava por transformações e mudanças pós-guerra.

Diferenças
1. Antes da Revolução de 30, tínhamos uma estabilidade aparente: dois grupos que se alternavam no poder político por terem o poder econômico. Antes do Golpe de 64, tínhamos uma instabilidade artificial: grupos de direita que não aceitavam a esquerda no poder.
2. A causa da Revolução de 30 foi uma insatisfação, já antiga, (mas) que aumentou quando o grupo paulista tentou manter o poder por mais tempo. A causa do Golpe de 64 foi a Presidência assumida pela esquerda.
3. O estopim para a Revolução de 30 pode ter sido a fraude eleitoral ou o assassinato de João Pessoa. O estopim para o Golpe de 64 foi as Reformas de Base, de cunho social-progressista.
4. A Revolução de 30 foi formada, basicamente, por governadores insatisfeitos com o Governo Federal. O Golpe de 64 foi formada pela direita política (UDN, hoje DEM), pelos militares e pelo alto clero da Igreja Católica.

2 comentários:

Felippe disse...

Chamar um ex presidente de bebado não é ditatico, muito estudante pode acessar a sua página. Seu lulismo não o deixa enxergar quemuitos que dão sustentação ao governo são da direita dessa época.
É apenas um comentário não uma cr´tica. Parabens por sua aula de história. Obrigado, Felippe

Junior disse...

São quase iguais: usaram desculpas para tomar o poder e implantar uma ditadura. Ambas foram golpes de estado.