quarta-feira, 8 de abril de 2009

Da Mauricéia à Nova Iorque

Depois de terem sido contadas as histórias dos Quilombos e da chegada dos holandeses por aqui, venho lhes contar como os holandeses se consolidaram e decaíram.

Conquistado Pernambuco, para os holandeses era questão de tempo invadir o resto do Brasil. Enquanto isso, tinham que gerir o território. Para isso, só em 1637, cinco anos depois da tomada do território, é que o Conde Mauritz von Nassav-Siegen, conhecido aqui como Maurício de Nassau foi enviado pela Companhia das Índias Ocidentais na qualidade de Governador do Brasil Holandês.
Antes dele, os comerciantes estavam insatisfeitos com as condições impostas pelos gestores anteriores, bem como os gestores anteriores estavam insatisfeitos com os "calotes" dos comerciantes. De um lado havia empréstimos a juros altos; do outro, inexistência de mercado interno.

Nassau veio e mudou muita coisa: passou a tratar diretamente com os comerciantes das dívidas, perdoando muitas delas, e, implantou a primeira experiência de laicidade no Brasil, ou seja, deu liberdade ampla de culto das religiões. A liberdade de culto foi tão ampla que, aqui em Recife, foi criada a primeira sinagoga judaica das Américas.
Com isso, Nassau queria ser popular e conquistar a confiança da população. E estava conseguindo. Os comerciantes e os judeus (e os judeus comerciantes) o adoravam. Só faltava carisma das classes mais baixas. E, para isso, anunciou o dia em que o boi ia voar. Essa história todo mundo conhece.
Nassau também trouxe para Recife os maiores artistas europeus da época, para retratar e documentar a vida recifense. Franz Proust e Ekhout são os mais conhecidos. Essa nova fase da vida urbana de Recife teve efeitos práticos, simples e complexos. O maior deles foi a mudança do nome da cidade para Mauricéia.

Mas a história não é tão boa assim. Insatisfeita (arretada) com os perdões das dívidas dos comerciantes (o que levava a constantes prejuízos), a Companhia das Índias Ocidentais se viu obrigada a demitir Nassau, colocando um impopular que passou a cobrar tudo, até as dívidas perdoadas pelo antigo gestor. E aí o que era bom (o "domínio" holandês), passou a ser ruim, passando-se a se tramar a expulsão dos holandeses e a restauração do domínio português.

O que nos livros de história está escrito como Restauração Pernambucana, é, na verdade, Restauração Portuguesa. Com o fim da União Ibérica (Portugal e Espanha sob o controle do mesmo rei), Portugal procurou voltar a ter controle sobre suas colônias perdidas e abandonadas pela União Ibérica. Juntou-se isso a insatisfação dos comerciantes de Pernambuco.

A primeira batalha ocorreu no Monte das Tabocas (hoje município de Vitória de Santo Antão), em 03 de agosto de 1645, onde 1.200 homens, 200 armas de fogo, foices, paus tostados, chuços e flechas lutaram contra 1.900 holandeses fortemente armados, equipados e adestrados.
Em 24 de abril de 1646, ocorreu a batalha de Tejucupapo, onde as mulheres dos senhores de engenho pegaram em armas e expulsaram os holandeses da região, deixando-os sem mantimentos.
Em 19 de abril de 1648, ocorreu a primeira batalha dos Guararapes, onde hoje é o Parque Histórico Nacional dos Guararapes, sob controle do Exército. Um ano depois veio a segunda batalha. Os "nacionais" venceram as duas, enclaurusando os "invasores" no Recife até 1654.
Após 62 horas de negociação, foi assinada a rendinção incondicional na Campina da Taborda, fazendo os "invasores" entregarem as 73 chaves da cidade Mauricéia, hoje Recife.

Com a volta do Estado português e da Igreja Católica, os judeus fugiram para o norte e fundaram uma pequena cidade, Nova Armstedã, hoje Nova Iorque.

Duas questões que devem ser levantadas. A primeira é que é na Restauração Pernambucana que nasce o sentimento de nação. Lutaram os mazombos (filhos de portugueses nascidos no Brasil), índios nativos e negros, por um objetivo comum: lutar pela liberdade (isso sem contar a participação feminina).
A segunda é que é na Restauração que surge a estruturação de uma força armada brasileira. Não é à toa que o Exército controla a área do Monte dos Guararapes, bem como se diz que "a Pátria nasceu aqui", slogan da cidade de Jaboatão dos Guararapes.

Na luta contra os holandeses ficaram os alicerces das revoluções posteriores, como a Revoluão de 1817 e a Confederação do Equador (que eu ainda vou explicar aqui). Por causa disso, tanto João VI como Dom Pedro I, não viam com simpatia os pernambucanos, politizados e prontos para lutar pela liberdade e por uma república que sequer suspeitavam.

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