sábado, 23 de fevereiro de 2008

A Base é importante!

Para finalizar a série sobre os partidos brasileiros, eu falo sobre três dos principais partidos da Base Aliada do Governo Lula: PTB, PDT e PSB.

Registrado m 03 de novembro de 1981, o PTB foi originalmente criado em 15 de maio de 1945, sob inspiração getulista, no bojo do Movimeno Queremista ("Queremos Getúlio"), que pedia uma Assembléia Constituinte com Getúlio na Presidência da República. Sua base eleitoral era o operariado urbano, com fortes ligações com os sindicatos. Ideologicamente, o PTB seguia o castilhismo gaúcho, o positivismo ("Ordem e Progresso"), traços de social-democracia e o pensamento de Alberto Pasqualini. Entre 1945 e 1964, foi o partido que mais cresceu. Fortemente ligado ao PSD (Partido Social Democrático), elegeram juntos vários presidentes. Em 1945, o PSD elegeu o general Eurico Gaspar Dutra, com o apoio do PTB. Em 1950, o PTB elegeu Getúlio (o PSD tinha lançado Cristiano Machado candidato). Em 1955, a coligação volta com o pessedista Juscelino Kubitschek e o trabalhista João Goulart. Somente em 1960, a coligação foi derrotada, por Jânio Quadros, o doido, do PDC, apoiado pela UDN. João Goulart foi reeleito vice-presidente (na época, o vice era eleito separadamente do presidente).
Daí em diante, vocês sabem da história: Jânio renunciou, e Goulart só assumiu num sistema parlamentarista, repudiado pela população em 1963. Veio o golpe, e o golpe dentro do golpe, com o AI-5, que, dentre as várias medidas, acabou com o pluripartidarismo. A maior parte dos políticos do PTB passou para o MDB.
Após a anistia, Leonel Brizola quis refundar a legenda, mas teve que enfrentar a ex-deputada Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio Vargas, no TSE. Sofrendo derrota, Brizola fundaria o PDT - Partido Democrático Trabalhista.
Declarando-se, em seu programa, nacionalista, defensor da autonomia sindical e dos direitos trabalhistas consagrados na CLT, a prática política tem demonstrado apoio governista irrestrito, seja nos governos coronelista de Sarney, neoliberais de Collor e FHC, ou social-democrata de Lula, escancarando praticamente um partido fisiológico. Nos estados é a mesma coisa.

Registrado em 10 de novembro de 1981 (sete dias depois do PTB), o PDT - Partido Democrático Trabalhista surge da derrota judicial sofrida por Leonel Brizola, em que Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio, reclamava a posse da legenda PTB, criada por Getúlio. Ao longo da década de 1980 e parte da década de 90, dividiu com o PT o posto de principal força de esquerda no país, fazendo oposição ao Governo FHC. Na eleição de 1989, Leonel Brizola era um dos presidenciáveis.
Dentro do partido, houve uma polarização de forças entre os grupos de Leonel Brizola e Anthony Garotinho, razão pela qual Garotino saiu mais tarde para o PSB. Brizola, antes de falecer em 2004, sempre se candidatou a Presidente e Senador pelo Rio de Janeiro.
Em 2002, o PDT apoiou Lula no segundo turno, chegando a ser da base até meados do primeiro governo, quando passou a fazer oposição. Alguns petistas chegaram a mudar para o PDT. Em 2006, o PDT liberou seus votantes para votarem em quem quisessem no segundo turno, não apoiando ninguém formalmente. Participa atualmente da base aliada com Carlos Lupi, presidente nacional do PDT e Ministro do Trabalho.
Definitivamente, o PDT não é fisiológico. Brizola nunca o deixou ser. Quando é para elogiar, os pedetistas elogiam. Quando é para criticar, os pedetistas criticam.

Por último, o PSB. Registrado em 01 de julho de 1988, o PSB foi criado em 1947. Antes de 1947, houve vários PSB's regionais. Em 1932 houve a criação de um PSB no Rio de Janeiro de formação tenentista e pró-getúlio.

Em abril de 1947, por ocasião da 2ª Convenção Nacional da Esquerda Democrática, no Rio de Janeiro, seus integrantes decidiram construir o PSB. De formação antigetulista, o PSB procurou representar uma alternativa ao PTB e ao PCB. Mesmo recebendo a adesão de intelectuais e estudantes, o PSB em 1950 ainda era fraco e pequeno, com ação praticamente limitada ao estado de São Paulo.
Isso levou o PSB a se aproximar com o PCB. Em alguns casos, o partido ofereceu a legenda para o lançamento de candidaturas comunistas. Em outros casos, obteve o franco apoio do PCB, como em Pernambuco, quando em 1952 lançou o jornalista Ozório Borba candidato a governador, sendo derrotado pelo conservador Etelvino Lins. Três anos depois, em 1955, o socialista Pelópidas da Silveira foi eleito prefeito da capital pela "Frente de Recife" (coalizão reunindo o PSB e o PTB, com o apoio dos comunistas), hegemonia de coalizão de esquerda que durou até 1964.
O suicídio de Getúlio Vargas levou o PSB a se recolocar no campo oposto ao PTB. Em 1955, o partido uniu-se a coalizão antigetulista liderada pelo general Juarez Távora, candidato apoiado pela UDN.

Ainda no começo dos anos 50, o PSB ensaiava uma aproximação política com Jânio Quadros. Em 1953, o apoiou na candidatura para prefeito de São Paulo. No ano seguinte, apoiou sua candidatura para governador. Mas, o programa político difuso de Jânio sempre esteve em choque com ideal marxista do partido, o que só foi resolvido com a expulsão dos janistas e o anúncio do apoio ao candidato adversário, o general Teixeira Lott (PSD-PTB), que foi derrotado. Com a renúncia de Jânio, defendeu a posse de João Goulart, e, devido à isso, o PSB foi atigindo de frente pelo golpe de 1964. Quase todos os partidários ingressaram no MDB.
Após a anistia, estavam dispersos. Uns permaneceram no PMDB (como Pelópidas da Silveira), uma grande parte se filiou ao PDT, enquanto a maioria dos intelectuais participaram da fundação do PT. Em 1989, apoiou a candidatura de Lula junto com o PCdoB. No início da década de 1990, Miguel Arraes se desfiliou do PMDB, indo para o PSB. Foi eleito deputao federal no mesmo ano, levando mais 4 deputados. Em 1994, foi eleito governador de Pernambuco. Não aceitou a filiação de Ciro Gomes (ex-PSDB). Perdeu em 1998 para o PMDB de Jarbas Vasconcelos.
Em 2000, aceitou a filiação do então governador Garotinho, o que causou atritos e saídas do partido. Em 2002, Garotinho concorreu a Presidência, ficando em terceiro lugar, e elegendo a esposa no governo do Rio de Janeiro. No segundo turno apoiou Lula, participando desde então do seu governo, primeiramente com o ex-ministro Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia). O choque entre o presidente Lula e Garotinho intensificou o choque entre Garotinho e o PSB, fazendo-o sair do partido, indo pro PMDB e levando sua esposa e o ministro. Assim, o grupo político de Arraes volta ao comando do PSB, Eduardo Campos vira ministro, e, posteriormente, é eleito governador de Pernambuco.
Comentário: Hoje, sem dúvida, o PSB reconquistou o espaço perdido por causa da ditadura e das idéias novas com que veio o PT, com força total, na redemocratização. Tem direito a um bom espaço na Base, sem esquecer a história, a experiência: toda vez que o partido quis lançar nome próprio, se deu mal.

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