quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Entendendo a Crise dos EUA

Está mais do que claro que a situação dos ianques não é nada boa. Mas não foi por falta de aviso. Não foi por falta de experiências na história.

Está se repetindo o que aconteceu em 1929, na queda ao fundo do poço da Bolsa de Valores de Nova Iorque. O que aconteceu? Antes de entrar na 1ª Guerra Mundial, os EUA venderam armas para os dois lados, e, quando melhor lhe foi conveniente, adotou um lado e foi lutar contra o outro lado. No que houve enorme venda de armas, houve um crescimento no poder de compra da classe média. Toda casa tinha dois carros ou mais (dois carros era muito naquela época). Com muito dinheiro circulando, era claro que havia "dinheiro bom" e "dinheiro ruim", ou seja, dinheiro que realmente valia e dinheiro que não valia nada. Os dois dinheiros foram trocados por ações nas bolsas, e contaminaram principalmente o mercado de café (principal produto vendido pelo Brasil na época, representando cerca de 90% do PIB). E essas ações eram vendidas e compradas nas bolsas. Os vendederos sabiam que não valiam nada, e os compradores também, mas compravam mesmo assim, para vender posteriormente, com uma margem de lucro.

Mas, como a guerra parou e a Europa estava destruída, nenhum país europeu tinha dinheiro para comprar armas, interrompendo o fluxo de dinheiro da Europa pros EUA. Então, ficou circulando ação boa com ação ruim. Um belo dia, todo mundo (todo mundo, mesmo) que foi à Bolsa resolveu vender. E aí, caiu de vez.

Querem ver como é semelhante essa crise da bolsa de 1929 com a atual? Toda família ianque passa muito aperto pra tudo (dizem até que mais aperto do que nós, brasileiros). Uma família de classe média tem um filho, John. Mesmo antes de nascer, a família junta dinheiro pra John ter condições de cursar a universidade, que é particular. Não há universidades públicas. Vamos dar melhor condições a John. Ele está cursando normalmente a universidade, mas quer sair da casa dos pais. Começa a trabalhar e aluga um apartamento simples pra ele. Depois de um tempo, ele arruma uma mulher pra se casar. E aqui começa o ciclo do dinheir viciado.

Eles vão ao banco "GoodMoney" tomar um empréstimo, e colocam a casa que vão comprar por US$44.000 como garantia - é a chamada hipoteca. O contrato leva em conta bons antecedentes de empréstimo e renda comprovada. Pronto. John e Mary têm uma casa, perto da casa dos pais de Mary, no melhor subúrbio de Los Angeles. Começam a pagar as prestações da hipoteca, e em 20 anos estará quitada.
Mas, ianque gosta de ganhar dinheiro, mesmo que os dois já tenham emprego fixo, sem perspectiva de desemprego. E vêem, pela experiência própria, que vender casa é lucrativo. Então, resolvem financiar outra casa (de US$44.000), no mesmo banco "GoodMoney", para vendê-la por US$60.000.
Isso foi o ciclo bom. Mas, começou a surgir defeitos no ciclo, o que o tornou viciado.

Primeiro fator, a alta dos preços dos imóveis. Como disse, para ter o lucro de US$16.000, John e Mary compraram por US$44.000 e venderam por US$60.000. Quando os preços de algo aumentam, as pessoas esperam um momento até que baixem para se comprar. Se não baixar, não compra. Essa foi a lógica utilizada aqui. E hipoteca, nos EUA, é um contrato pessoal: quem fez o contrato é quem assume. Ao contrário daqui, que a hipoteca é um contrato real, ou seja, independentemente do proprietário, a casa está hipotecada.
Segundo fator, o erro dos bancos. Com o dinheiro dos juros, aumentou a liquidez, ou seja, o dinheiro disponível pra empréstimos. Aí, eles começaram a emprestar pra pessoas com histórico ruim de crédito (pedia emprestado e não pagava) e sem comprovação de renda. Uma irresponsabilidade, na minha opinião. E os bancos também contaminaram o mercado de capitais (lembra a crise de 1929?), quando passaram a vender esses títulos que não valiam nada na bolsa. Aí, contaminou todas as bolsas, e, por conseguinte, todas as economias.

Agora, multiplique essa hipótese por qual número quiser. Um casal não comprava uma casa só, comprava várias, para ter lucro encima de todas. E alguns aumentavam mais de 100%. Além disso, os juros dos bancos começavam pequeno, mas aumentavam progressivamente. E os títulos subprime vendidos pelos bancos nas bolsas eram em enorme número, tipo: financiavam uma casa de US$44.000, e faziam 44.000 títulos de US$1,00. Aí, é um vírus!
As consequências foram desastrosas. Quem não estava conseguindo vender por causa do alto preço, teve que baixar o preço do imóvel, mas já era tarde demais. Os bancos perderam a liquidez, e já não têm garantia nenhuma da volta do empréstimo, por causa dos preços das casas.

E quais são as perspectivas? O Governo Ianque recentemente anunciou um pacote de uns bilhões aí, cerca de 1% do PIB ianque. Muitos prevêm que os bancos estão escondendo dados, e preservando suas ações. Outros dizem que a recessão já chegou nos EUA (desemprego em alta, corte de juros do FED, etc). E que o Brasil vai quebrar, por causa principalmente da alta taxa de juros daqui (Selic de 11,25%, diferença de 8,25% para a taxa de juros dos EUA 3,0%).

Minha opinião é que o Brasil saia melhor do que entrou, pois quanto mais descolado da economia ianque, melhor. Hoje, a maior besteira do mundo é concentrar a venda só para um ou poucos países. Eu vi que, no ano 2000, as vendas pra os EUA representava 20% das exportações. Hoje, só representa 15%, tendo havido um aumento substancial das exportações para a China e para a União Européia.

Mais: http://ultimosegundo.ig.com.br/economia/2008/01/16/entenda_a_crise_do_subprime_1154315.html

Um comentário:

Anônimo disse...

Texto interessante e criativa a descição da família de John e Mary. É possível que o leitor que não tem familiaridade com o assunto tenha entendido melhor a crise com seu blog do que com os textos informativos de grandes portais