Vamos falar sobre o PSDB - Partido da Social-Democracia Brasileira.
A história desse aqui é mais fácil do que a do PFL. Foi registrado em 24 de agosto de 1989.
O PSDB é uma dissidência dos sociais-democratas do PMDB. Dizem que foi por causa do rumos adotados pelo PMDB e pela política adotada por José Sarney, que assumiu a Presidência depois da morte de Tancredo Neves. O grupo era formado na época por "intelectuais" e políticos articulados sob a liderança de Fernando Henrique Cardoso (senador à época), Mário Covas (também senador à época), Franco Montoro, José Serra, Geraldo Alckmin, Aécio Neves (neto de Tancredo Neves), Arthur Virgílio Neto, entre outros.
Vamos abrir um parênteses para explicar, rapidinho, o que é a social-democracia. Depois da 2ª Guerra Mundial, o mundo praticamente se dividiu em capitalistas e socialistas. Ou você era um capitalista-liberal ao lado dos E.U.A., ou você um socialista ao lado da U.R.S.S. - União das Republicas Socialistas Soviéticas.
Os europeus, que de bobos não têm nada, não gostaram dessa divisão simplista - o Bem e o Mal (sem dizer qual é o Bem e o qual é o Mal). Então, criaram uma terceira via: a social-democracia. Pegaram o que tinha de bom nos dois sistemas e juntaram. E o que é a social-democracia?
O cidadão tem direito à propriedade privada, mas esta mesma propriedade deve cumprir uma certa função social. O Estado não pode ser Máximo, interferindo em tudo, mas também não pode ser Mínimo, de modo a garantir as mínimas condições da dignidade do cidadão, de sobrevivência do ser humano.
Há escolas públicas e privadas. Há hospitais públicos e privados. Há previdência pública e privada. Um caso bem demonstrável são as recentes greves na França. O presidente recém-eleito Nicolas Sarkozy, conservador de direita, queria extinguir vários direitos (que a Mídia noticiava como privilégios) dos funcionários públicos franceses. O país, simplismente, parou, porque um presidente-celebridade (em maio, dois meses depois de assumir a Presidência, se divorciou depois de anos casado, e agora em janeiro se casou com uma modelo italiana anos mais nova que ele) queria extinguir direitos conquistados depois de anos de luta. Só tentar fazer isso no país da Revolução Francesa, país-pai da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, é um crime de lesa-pátria.
Explicado o que é social-democracia, voltemos ao PSDB. Então, era um ideal bom que eles traziam da Europa para cá. O ideal era tão bom, que em 1989, na primeira eleição para Presidente depois da ditadura militar, Mário Covas obteve o quarto lugar do primeiro turno. No segundo turno, o partido apoiou (pasmem!) Luís Inácio Lula da Silva. Como vou falar numa próxima postagem, o PT e o PSDB tinham tudo para mandar e desmandar neste país.
Em 1994, estava sendo construída uma chapa Lula (PT) candidato a presidente e Tasso Jereissati (PSDB) como vice. Não sei porquê não foi para frente, mas o fato é que o PSDB se aliou com o PFL, tendo Fernando Henrique Cardoso candidato a presidente e Marco Maciel como vice. Foram eleitos. Mas, porquê com o PFL? Porque o Nordeste, na época, era um curral eleitoral do PFL. E, a partir daí, o PSDB esqueceu seu programa.
Sim, porque não defendeu nada de social-democracia. Em vez disso, assumiram o conteúdo programático do PFL. É o único caso que eu conheço na história. Assume o presidente de um partido, e ele executa o programa do partido do vice. O PSDB assumiu o lema do Estado Mínimo: 1) privatizou os setores de energia e telefonia; 2) acolheu capital privado em empresas públicas (transformando-as sociedades de economia mista); 3) iniciaram um processo (não terminado) de substituição dos Ministérios (que seriam extintos) pelas Agências Reguladoras (que existem até hoje), e outras medidas que não me lembro mais.
Além disso, o PSDB se corrompeu. As privatizações foram verdadeiros bacanais. A Vale do Rio Doce foi vendida por um terço do que valia na época. Por pouco a Petrobrás também não foi vendida.
E Fernando Henrique Cardoso gostou tanto do poder, que não deixa nem os partidários dele assumirem. Na eleição de 2002, mesmo sendo do partido de José Serra, estava torcendo por Lula. Pensava que Lula não era preparado pra Presidente. Chegou a não deixar pedirem o impeachemeant de Lula pra "deixar ele sangrar" (palavras do próprio). Porém, ele se esqueceu que não foi Lula quem participou do mensalão (se é que ele existiu), e sim o PT. São coisas distintas, Lula e o PT, diferença que o povo notou. E, em 2006, também torcia pra Alckmin perder, e, de fato, Lula ganhou com a mesma porcentagem que ganhara pra Serra: 61% contra 39%.
O PSDB hoje tem menos dificuldades que o PFL, mas tem. Os anti-FHC querem o rompimento do PSDB com o PFL. Quem comanda esta ala é Geraldo Alckmin (SP), que quer sair candidato à prefeitura de São Paulo, em detrimento do apoio do PSDB à candidatura de Gilberto Kassab (SP). Aécio Neves (MG) recentemente demonstrou apoio a candidatura de Alckmin, com vistas à candidatura à Presidência da República em 2010. Apoiando estes dois está Sérgio Guerra (PE), presidente fictício do partido, haja vista que FHC tem enorme poder sobre o partido. Os pró-FHC querem manter a aliança com o PFL. Desse jeito, José Serra, ao lado de FHC, quer que o PSDB abdique da candidatura própria e apóie Gilberto Kassab na reeleição.
Por fim, porquê "Nova", entre aspas? Porque o partido efetivamente se dispôs ao novo, mas aliado com o velho, não fez nada.
Um comentário:
Camarada Renan não consego ficar calado quando o assunto é PSDB.
Embora o termo social-democracia já fosse usado no século XIX por marxistas em vários países europeus, esses na prática foram abandonado a teoria marxista na medida em que se tornavam partidos do "status quo".
O exemplo mais claro é o SPD (social-democracia alemã), responsável pelo assassinato de Rosa Luxemburgo e que durante a Iª Guerra Mundial apoiou o governo alemão. Portanto apoiou uma guerra imperialista que punia pesadamente os proletários dos países beligerantes e os dividia. Proletários X Proletários.
Durante a reconstrução da Europa após outra Guerra Mundial a social-democracia tomou outro sentido com o chamado "welfare state". Concebido em grande parte para conter o avanço dos partidos comunistas.
No Brasil essa versão chegou com o PSDB num momento em que a Europa sucumbia ao mercado e ao Estado-mínimo (tatcherismo)e logo incorporou os vícios dos seus irmãos europeus.
Nas eleições de 1989 o PSDB apoiou sim Lula, mas uma ala liderada pelo então senador FHC pendia para lado de Collor.
Após a queda de Collor o PSDB pretendia um paralmentarismo (não sei bem qual o tipo de parlamentarismo). Caso o parlamentarismo saísse vitorioso no plebiscito de 1993 apoiariam Lula para presidente (rainha da Inglaterra) e chefiariam o governo.
O resto vem com a eleição de FFHH e todos sabem no que deu.
Hudson Luiz
Postar um comentário